Escrita com o Espírito do Deus vivo
O Céu é um Reino e para entrar em um reino você precisa ter um propósito. Definido o propósito, adquire-se um passaporte e o visto para o país de destino. Só então, a viajem é autorizada. Sempre foi assim na diplomacia, desde as primeiras civilizações, mesmo que fosse apenas uma carta, mas fazia-se necessária a autorização para que o viajante tivesse algum direito e, consequentemente, deveres.
A partir desse entendimento, podemos falar do texto em questão neste artigo, no qual o apóstolo Paulo descarta a necessidade desta carta diplomática entre ele e a Igreja de Corinto, visto que eles já se conhecem (Ver versículo 1). No entanto, o apóstolo usa a expressão ‘CARTA’ para deixar claro que o propósito daquela igreja está diretamete relacionado a esta temática, inclusive, com direitos e deveres de seus membros no processo de preparação para o Reino dos Céus.
2 Coríntios 3
1 – PORVENTURA começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós, ou de recomendação de vós? 2 – Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. 3 – Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração. 4 – E é por Cristo que temos tal confiança em Deus;
Já faz algum tempo que medito neste texto e sempre me alegro porque sua revelação me enche de consolo e esperança, embora me outorgue grande responsabilidade. É maravilhosa a forma como ele vem direto ao encontro de nossa necessidade humana, como criatura de Deus que anela pela redenção a fim de ter, outra vez, acesso ao Pai e garantia de morada eterna no Céu.
O processo
Para um melhor deleite na mensagem aqui revelada, é preciso partir da compreensão de que, apesar da fé em Deus, faz-se necessário o cumprimento de uma missão real para que se tenha novamente acesso à eternidade com Ele. E isso não acontece apenas por consequencia da morte. Não é algo como ‘morrer e pronto, está no Céu’. A estadia no Paraíso celestial precisa ser garantida com antecedência, mediante um processo.
A relação entre o apóstolo Paulo e a igreja por ele fundada na cidade de Corinto é um exemplo desse processo. A afinidade do apóstolo com aqueles crentes dispensa uma carta de recomendação/apresentação porque aquela igreja é a própria carta escrita no coração dele. Essa afinidade lhe assegura que a palava por ele pregada àquelas pessoas fez efeito em suas vidas e, enquanto isso, gerava convicção nele de que tudo valeu à pena. E mais, essa carta/igreja não é vista só por ele, mas como registra o versículo 2, é também conhecida e lida por outras pessoas: “Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens”.
Há um simbolismo nesse verso que mexe comigo. É como se o apóstolo falasse: ‘Vocês são igreja, crentes em Jesus, batizados, membros do Corpo de Cristo e povo de Deus? Então vocês são como uma mensagem escrita. Eu evangelizei, vocês se converteram e foram doutrinados. Mas, agora tem que manter essa doutrina escrita em vocês e por onde forem, serão como uma carta que as pessoas poderão ler’.
Aqui, leitores, há duas coisas importantes a serem observadas que estão sendo outorgadas sobre os membros daquela igreja. Primeiramente, o privilégio de serem representantes de Deus; cartas pelas quais outros poderão conhecer a grandeza desse Deus. Em segundo lugar: é uma grande responsabilidade porque as pessoas vão ler suas ações como um testemunho. Isso é muito sério! Porque tais leitores podem olhar para estas ações e simplesmente falarem: ‘isso aí, Jesus? Onde está Jesus nisso? Essa pessoa não tem nada a ver com Jesus’.
David Otis Fuller (1903–1988) perguntou certa vez: “se você fosse acusado se ser um cristão, haveria provas suficientes para te condenar?”. Atualmente não há acusações assim, não aqui no Brasil. Mas se houvesse, caro leitor, você seria condenado? Porque se não houver nada que acuse o crente na justiça dos homens, certamente há algo errado e esse crente, provavelmente, está em falha diante de Deus. É preciso cuidado, pois, para não ter problemas com a justiça do Céu.
Voltando ao versículo, ainda é possível perceber que aquele pessoal que congregava ali em Corinto – pregava, liderava – eram representantes de Paulo e sua equipe missionária. Tanto no sentido de que ele os conhecia – “Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações…” – como também havia neles uma identidade no sentido de que outras pessoas, ao olharem para aquela comunidade, pensavam: ‘Paulo passou por aqui’.
Assim sendo, aquela igreja era uma representatividade do ministério paulino e quem a lia, portanto, ficava informado sobre o que Paulo pregava, mesmo sem conhecê-lo. A Igreja era uma carta ministrada por ele, participando do processo de aquisição do passaporte e visto para o Céu ao cumprir a missão celestial na terra: “Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós…” (verso 3).
A escrita
O versículo três diz também que esta carta é ministrada por Paulo, isto é, ele foi usado para que aquela carta/igreja viesse a existir. O apóstolo ministrou sobre aquele povo que adulterava, fornicava, mentia, eram sodomitas, idólatras, mentirosos, feiticeiros… todo tipo de pecador que veio a participar do processo. Mas, apesar dele ser ministro ali, a mensagem não era dele. Ela foi escrita “…com o Espírito do Deus vivo…”.
Ainda no mesmo versículo, o escritor diz que esta escrita não se deu “…em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração. É uma referência às tábuas de pedra que Moisés recebeu com a Lei no Antigo Testamento e também uma profecia de Jeremias (Jr 31.33). Nela, “…diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”.
Moisés recebeu a lei escrita em pedra, mas Jeremias diz que um dia o Espírito do Senhor escreveria no interior do homem. E Ele veio! No Novo Testamento, o Espírito Santo é derramado sobre toda a terra. Quando o pecador crer na Palavra de Deus, recebe a Cristo como Senhor e Salvador, o Espírito Santo vem e habita no coração humano, escrevendo nele esta mensagem.
No entanto, uma pessoa pode servir com a melhor das intenções, porém, a falta de sabedoria e as lutas diárias lhe manchucarem –ser magoado, magoada – e acabar tornando-se uma carta borrada pelos erros ou manchada por lágrimas. Quem já chorou enquanto escrevia, sabe o que isso significa. Vai pingar uma lágrima ali. E, neste caso, pode não ser culpa de quem escreve, mas resultado de seu sofrimento. Então, a pessoa é uma carta bem intencionada, mas ao chorar expondo os seus sentimentos, acaba amarrotando a mensagem. Porém, o sangue de Cristo pode limpar esta página, renová-la e escrevê-la de novo, escrever ainda melhor.
O propósito
Uma vez escrita, a carta precisa ser enviada. Não se escreve uma carta e continua com ela, pois quem a lerá? Cartas são escritas para transmitir mensagens a outras pessoas. E, para que a mensagem seja eficiente, a carta deve ser enviada aos destinatários. Você é de Cristo! E Ele quer que você seja esta carta perfeita, a qual Ele tenta escrever. Mas, não é fácil escrever em uma superfície cheia de altos e baixos.
O Senhor pode escrever uma mensagem incrível, mas precisa moldar a substância até chegar à estabilidade, aplainar a superfície, a fim de escrever com perfeição, mas nem sempre as pessoas O deixam fazer isso. Então os destinatários olham, tentando ler a mensagem, até veem algo escrito, mas não conseguem entender porque o sujeito que carrega a mensagem ainda tem muitos altos e baixos. É triste, irmãos, que hoje, a gente se conforme com situações assim. É necessário aceitar o conserto, para que, até aqueles que passam correndo, leiam e entendam o que está escrito em nós.
Precisamos, portanto, deixar que essa palavra seja uma realidade em nossas vidas. Somos a carta de Cristo ao mundo para que as pessoas possam olhar e decidir: ‘eu quero ser uma carta como esta mulher; eu quero ser lido como aquele homem; eu quero ter uma mensagem de Deus em minha vida como estes cristãos. Porém, muitos perguntarão: Tu vai deixar esse mundo e todas as coisas boas que ele oferece para ser como eles? Por quê? Então a resposta virá com convicção: Porque eles tem propósitos: ser cartas de Cristo ao mundo e, feito isso, atravessar a fronteira material e entrar no Reino celestial para glorificar a Deus por toda a eternidade.
A nossa confiança
Nós pecamos e fomos separados de Deus. E para consertar isso, precisamos ser a mensagem do Espírito do Deus Vivo, tanto para nós mesmos, quanto para aqueles que ainda não receberam a Cristo como Senhor e Salvador. E como sabemos disso? O Senhor Jesus Cristo nos confirma. O versículo quatro, diz que “é por Cristo que temos tal confiança em Deus”. A nossa confiança vem do próprio Senhor Jesus Cristo que confirmou isso ao apóstolo Paulo, confimou à Igreja em Corinto, confirmou a mim e agora, confirma também a você leitor através da Bíblia Sagrada.
Então, sejam cartas com a mensagem eterna de Cristo. Talvez você não se sinta uma carta plenamente escrita, mas se você for uma linha, um verso que possa ser comunicado a alguém, isso já faz a diferença na vida daquela pessoa que vinha à igreja, mas desanimou; ou aquele conhecido de outra denominação, que também não consegue mais ir e vive se queixando; ou até mesmo um descrente que ainda precisa se render ao Senhor Jesus. Seja carta de Cristo ao mundo, escrita com o Espírito do Deus vivo.
Com amor e temor,
Pr Josué Lima